Resolvi mudar minha rotina de ser noturna para caminhar cedo da manhã, uma contribuição a sacrificante hum... batalha da balança. rs! 5h30 anunciava o despertador, lentamente a determinação me tirava da cama e do sono. Depois de alguns anos retornei a caminhar pelo calçadão do entorno da lagoa de Messejana. Como é bom respirar esse ar matutino, o sol a acariciar nossa pele, ouvir os passarinhos e poucas buzinas. Sentia-me feliz! A vida já despertara a horas e eu não estava sozinha, muitos já tomavam suas rotinas diárias. Após alguns minutos de caminhada, observava como se encontrava o lugar e me entristecia a cada passo; por toda a extensão do calçadão havia depredação e descaso de todos os gêneros! Diversos buracos tomam conta do calçadão, cartazes de comércio e serviços colados as estruturas que sustentam as placas que "divulgavam" as obras do escritor José de Alencar, onde densas pichações impedem ler as informações ali contidas. Uma destas placas nem mais existe, foi retirada! não ha sinalização indicativa de que ali é um passeio, um largo para pedestres e não uma ciclovia, onde bicicletas e cargueiras disputam o espaço com os usuários do lugar, os caminhantes, os desportistas.
Mas o que mais me chocou foram outros usuários do lugar, os moradores de rua. Diversos homens e mulheres estão vivendo sobre o calçadão e abaixo do mesmo. Gente, cacarecos, panelas, redes, sujeira... miséria. .
Ao ligar para o "Fala Fortaleza" e fazer a denúncia de tudo isso pensei como profissional do turismo, nas intervenções ambientais e de infra-estrutura, no belo dos lugares, mas também como cidadã que deseja o "melhor" para todos, solicitando intervenção social e de direitos humanos.
Reflito e vou além do belo e dos infelizes princípios maquiadores que formatam os cenários turísticos.
Quem seriam aquelas pessoas? Por que estavam morando nas ruas? Será que elas se acostumaram a uma forma "degradante" de viver? ou será que para elas não tenha nada de humilhação, o estar "livre" é o mais importante? Longe de convenções e padrões sociais, onde a subversão é o que dar sentido a suas vidas. O espaço também é deles! ainda sem habitação, sem teto, quem sabe sem RG. Excluídos de uma sociedade de aparências, sem oportunidades, descriminatórias e segregadas. Acho apenas que a miséria não deveria comungar com sujeita, fedor e lixo.
Meu pensamento ficou em conflito, senti medo, perplexidade, compreensão, solidariedade e tristeza.
Lembrei de dois documentários que vi nesses últimos meses; Estamira, uma mulher brilhante e “louca” que após uma desilusão amorosa resolveu morar nas ruas e ser catadora de lixo; e um documentário da Rercord sobre moradores de rua de São Paulo, pessoas que optaram por morar em espaços públicos e que jamais os deixarão por identificarem-se com eles, vivem de biscates e empregos informais e são felizes da forma como levam a vida; vi depoimentos inacreditáveis! onde desilusão amorosa, social e política os fizeram tomar as ruas como suas vidas e suas moradas. Como por exemplo, um ex-radialista que não tinha nada de sujo e maltrapilho, é educado, limpo e que optou por morar nas ruas, sem família e sem emprego formal, motivado por desilusão e por desejar mudanças sociais, do mundo. Loucura? o melhor seria perguntar primeiro o que é loucura para cada um. E por que não nos peguntar também o que provocam essas loucuras, o que torna o homem tão vunerável e passivo a sua "situação" ?
Os números são impressionantes, quase dois milhões de pessoas vivem nas ruas do Brasil.
Quem será o certo dessa história? Existe certo ou errado? Senso turístico ou humanitário? Tudo é conflito de interesses, sejam mercadológicos, politicos, sociais, ideológicos e até pessoais.
Seriam de políticos, de grandes grupos econômicos e corporativistas onde suas metas afunilam-se em acumulo de riquezas e promoção do consumo? pensando desenvolvimento sem desenvolvimento humano e social? Desenvovilmento que polui, que ameaça, que segrega, que exclui, que enfraquece, que mata.
... mata de raiva, de fome, de tristeza.
(suspiro)
Caminhar cedo tomou e toma outras proporções. Tocou meu eu... atos e pensamentos.... favoreceu a olhares reais .... experiências.
Dai-me a oportunidade de em meus caminhos, falas, posturas e atos agir e reagir com dissernimento e humanidade.